CANGURUS EM COMBATE NO SUDESTE ASIÁTICO: A PARTICIPAÇÃO DA AUSTRÁLIA NA GUERRA DO VIETNÃ

Em 10 de junho de 1965, as primeiras tropas de combate australianas chegaram ao Vietnã do Sul por mar, a bordo do HMAS Sydney. Os primeiros soldados a chegarem pertenciam ao 1º Batalhão do Regimento Real Australiano (1 RAR). O restante do 1 RAR chegou nos dias seguintes, também por via aérea.

Chagada dos primeiros contingentes do 1 RAR por via aérea, em 1965.

O 1 RAR consistia em cerca de 1.400 homens, incluindo um batalhão de infantaria de combate, uma unidade de sinais e vários outros elementos. A base operacional do 1 RAR foi estabelecida próximo da Base Aérea de Bien Hoa, onde o regimento foi oficialmente anexado à 173° Brigada Aerotransportada do Exército dos EUA.

Uma patrulha de combate (PAC) do Exército Australiano durante uma missão de Busca e Destruição (Search and Destroy) nas proximidades de sua base em Bien Hoa O soldado em primeiro plano porta um fuzil de batalha L1A1 de 7,62×51 mm, semelhante ao FN FAL, adotado por anos pelo Brasil.

A Austrália foi um dos primeiros aliados dos EUA e do Vietnã do Sul a se comprometer a lutar no Vietnã, como uma forma de agradecer ao apoio dado pelos norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Os primeiros australianos chegaram ao Sudeste Asiático em 1962. Neste primeiro momento eram apenas 30 especialistas em guerra na selva, que foram enviados para ajudar a treinar as forças de contra-insurgência sul-vietnamitas. No seu auge, o número de tropas australianas enviadas para o Vietnã foi de 8.000, em determinado momento, em 1968.

Soldados australianos no Vietnã do Sul fornecendo ajuda alimentar a civis, em meados de 1966. (Fonte: Governo da Austrália)

Uma das batalhas mais significativas no qual o 1 RAR participou na guerra do Vietnam foi a batalha de Long Tan, em 18 de agosto de 1966. Naquele dia, uma patrulha australiana de cerca de 100 homens descobriu um regimento norte-vietnamita que estava se preparando para atacar a base do Exército Australiano em Nui Dat. Mesmo estando em menor número, os Australianos eram apoiados pela artilharia próxima, o que os ajudou a conterem o regimento norte-vietnamita por várias horas, até que finalmente chegassem os reforços e eles conseguiram forçar as tropas comunistas atacantes a recuar. Essa história virou um filme, lançado em 2019 na Austrália, e 2022 no Brasil, chamado de “Danger Close: The Battle of Long Tan” (“Perigo Iminente”, no Brasil).

Pôster do filme “Danger Close: The Battle of Long Tan” (2019).

As forças australianas participar da Ofensiva do Tet, em fevereiro de 1968, quando coseguiram repelir a brutal ação das tropas Vietcongs e do Exército do Vietnã do Norte em Bien Hoa, não permitindo que o inimigo penetrasse no perímetro da base e rechaçando o ataque. Essa ação foi muito elogiada pelos norte-americanos.

Armas usadas pela infantaria australiana durante sua participação na Guerra do Vietnã. As armas de origem britânicas e australianas foram usadas no início da guerra, sendo substituídas pelas armas de origem norte-americanas na parte final do conflito.

A Real Força Aérea Australiana (RAAF) e a Real Marinha Australiana (RAN) também participaram da Guerra do Vietnã. A RAAF empregou aeronaves de Havilland DHC-4 Caribou, Bell UH-1B/D Huey, BAC Canberra e o CA-27 Sabres (versão australiana do F-86 Sabre, logo retirado de combate). Já a RAN utilizou seus navios juntamente com a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) no Golfo de Tonkin e na costa do Vietnã do Sul.

Um bombardeiro médio BAC Canberra B.20 da Real Força Aérea Australiana (RAAF) durante uma missão de bombardeiro de alvos no Vietnã do Sul. Essas aeronaves eram proibidas de voar no Vietnã do Norte, devido as avançadas defesas antiaéreas daquele país, incluindo modernos misseis terra-ar (SAM) fornecidos por russos e chineses.

Pilotos e tripulantes da Real Força Aérea Australiana são vistos após retornarem de uma missão de transporte de tropas, com suas aeronaves de Havilland Canada DHC-4 Caribou ao fundo. Essa aeronave, uma versão mais antiga do DHC-5 Buffalo que serviu na Força Aérea Brasileira (FAB) entre 1968 e 2005, tem excelentes capacidades de pouso e decolagem em pista curta (STOVL), o que fez a mesma ser adotada pelo Exército dos EUA, depois sendo repassadas para a Força Aérea dos EUA (US Air Force).

O destróier da Real Marinha Australiana HMAS Hobart (D 39) patrulhando a costa do Vietnã do Sul durante seu primeiro tour de combate, em 1966.

Durante os anos finais da década de 1960, assim como nos Estados Unidos, a pressão contra a presença das tropas australianas no Vietnã e a intransigência do então Primeiro-Ministro australiano John Gorton, que era favorável a participação australiana na guerra, foram alvos de intensos protestos dos australianos, muitos dos quais se recusavam a servir nas Forças Armadas, inclusive fugindo para outros países. Muitos cartazes espalhados pelo país pediam para que os homens voltassem para o país.

Cartaz australiano protestando contra a guerra, de 1969. A inscrição diz: “Sair de casa? Traga-os para casa para sempre.” (FONTE: Museu Australiano da Guerra do Vietnã)

A retirada das forças australianas do Vietnã do Sul começou em novembro de 1970, devido ao processo de “vietnamização” da guerra, proposto pelo governo norte-americano de Richard Nixon, e por uma troca de governo na Austrália, que era contra a participação australiana no conflito, além da pressão interna exigindo a volta dos soldados australianos para casa, quando o 8 RAR completou seu turno de serviço e não foi substituído.

Seguiu-se uma retirada em fases e, em 11 de janeiro de 1973, o envolvimento australiano nas hostilidades no Vietnã havia cessado. Quando o último pessoal operacional foi retirado, a Guerra do Vietnã havia se tornado a guerra mais longa da Austrália. Por muitos anos, continuou sendo a maior contribuição de força da Austrália, para um conflito externo, desde a Segunda Guerra Mundial, até o envolvimento australiano no Afeganistão, entre 2001 e 2014, que superou esse tempo.

Tropas australianas marchando no desfile de “bem-vindo ao lar” em Brisbane depois de retornar do Vietnã, em 1970, logo após o início da retirada das tropas pelo governo da Austrália. (Fonte: Governo da Austrália)

Ao todo, mais de 60.000 australianos (e também alguns neozelandeses, servindo como voluntários nos batalhões do Exército Australiano) serviram na Guerra do Vietnã como tropas de combate terrestre, pilotos, oficiais de artilharia, marinheiros, policiais militares (MPs) e em inúmeras outras funções. Um total de 521 australianos foram mortos durante a guerra.

Memorial dedicado a participação australiana na Guerra do Vietnã, o “Australian Vietnam Forces National Memorial” (“Memorial Nacional das Forças Australianas do Vietnã”), inaugurado em 1992 na capital da Austrália, Canberra.

Trailer legendado em português do filme “Danger Close: The Battle of Long Tan” (“Perigo Iminente”, no Brasil), de 2019/2022.

FOTO DE CAPA: Soldados australianos do 7 RAR esperando para serem apanhados por helicópteros do Exército dos EUA (US Army) após uma operação de Busca e Destruição perto de Phuroc Hai em 26 de agosto de 1967. Esta imagem está gravada na parte interna do Memorial Nacional das Forças Australianas do Vietnã (observe na fotografia do memorial), inaugurado m 1992 em Canberra, capital da Austrália.

FONTES: Wikipédia, Instagram do Canal Militarizando e Governo da Austrália.

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